Qual impulso será o mais poderoso? - Nanim Rekacz

Nanim Rekacz
Mundos interiores - Nanim Rekacz
O duelo - Nanim Rekacz
Nanim Rekacz
Inutilidade das fechaduras - Nanim Rekacz
Texto en español en Químicamente Impuro: "Inutilidad de las cerraduras"

A continuidade dos sonhos - Nanim Rekacz

Pubicado en Micro-Leituras
Nanim Rekacz
Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka - Daniel Frini

Texto en español en Ráfagas y parpadeos: "Variaciones sobre 'La metamorfosis' de Kafka"
Publicado en MICRO-LECTURAS
O esquecimento fatal - Martín Gardella

Texto en español en Internacional microcuentista: "El olvido fatal"

Martín Gardella
Companhias - Gabriela Colombo

Texto en español en Gabriela Colombo: "Compañías".

Fui a um centro oftalmológico, onde me dilataram as pupilas à força de gotas ardidas. Fiquei impressionada ao descobrir que também com a visão distorcida eu as continuava enxergando. Por ali passa uma voando, por lá se escondeu outra... Essa que parece uma, na realidade são duas, uma ao lado da outra.
O resultado parcial da consulta foi fadiga visual.
— Você enxerga linhas brilhantes enquanto trabalha?
— Sim, às vezes eu enxergo umas espadas fluorescentes aparecendo nas laterais do monitor.
— "Flashes luminosos". Esse é o nome que dão para esse problema e o tratamento é com um colírio.
— E as sombras?
— Nós as chamamos “Moscas Volantes”. Nunca tentou pegar uma?
— Já, várias vezes…
— São descolamentos de retina. Geralmente começam a aparecer com a velhice. Esse não é o seu caso.
— Como se faz para eliminá-las?
— Não tem jeito. O melhor é ficar amiga das suas moscas e aprender a conviver com elas. Se algum dia perceber que aumentaram, venha logo.
Dei duas voltas pelo hall do consultório até acertar a porta do elevador... eu me sentia tonta. Deixei o carro estacionado, optei por andar. Perambulei pelo centro da cidade como entre trevas. As luzes eram difusas, não podia ler os cartazes, nem os números dos ônibus e menos ainda os nomes das ruas. Fiquei pensando nos cegos.
Quando cheguei em casa me deitei com os braços cruzados atrás da cabeça, apaguei a luz e caí exausta, com a imagem do oculista falando gravada nas minhas retinas. Dormi sossegada até sentir a presença de uma das sombras flutuando por cima do meu corpo. No meio de um arrepio, abri os dois botões pretos que tinha como olhos e me levantei, agitada, para espantá-las. Acendi o abajur e, como um autômato, todas as demais luzes que encontrei em casa. O efeito “pupilas” não tinha fim. Fui até o banheiro e acabei na cozinha tomando um copo de leite morno. A certa altura da vida, não se pode ter medo da escuridão... Antes de voltar para a cama, olhei bem se a luz do corredor iluminava boa parte do meu dormitório. A sombra parece que tinha recebido a mensagem e estava escondida atrás da porta. Cobri a cabeça com o lençol e fiquei com a ponta do nariz para fora para respirar melhor. Por dentro, lhe implorei que não saísse.
Naquela época, a minha única esperança eram os vidrinhos de colírio; cumpria o rito das gotas cinco ou seis vezes por dia. Qualquer coisa para não vê-las mais. Durante o dia, rodeada de gente, a questão fluía bem. Os problemas começavam com o entardecer, parecia que a escuridão as ajudava a se camuflarem melhor, elas se desinibiam.
Tentei entender porque não podia vê-las diretamente, cara a cara. Devia se tratar de alguma característica da visão humana, porque eu podia perfeitamente detectá-las pelas laterais e inclusive por trás de mim. Ao longo dos anos também comecei a senti-las; exalavam um hálito frio, desagradável. Eu vivia em casa com umas seis delas e confesso que me apavorava enxergar mais de quatro juntas por perto. Desde o início pensei em ignorá-las, negá-las e durante algum tempo, consegui manter um comportamento socialmente aceitável, mas um dia elas se enfureceram ou simplesmente se cansaram da convivência e começaram a me assediar de um modo inexplicável. Senti que era uma provocação. Não me deixavam fazer nada, às vezes giravam em torno de mim como um vendaval. Eu as classifiquei pelo nível de pavor que me geravam. Quando lia, elas se cruzavam rapidamente por cima dos livros e davam um efeito parecido com o piscar de olhos. Também deixavam marcas de vapor de água nos vidros e nos espelhos do banheiro, que eu via quando terminava de tomar banho.
Quase todas eram da mesma forma, mudavam de tamanho. Tinham extremidades laterais como se fossem braços; o que seria a cabeça era um todo, em forma de ovo e muito comprida. Pareciam ter um olho só ou uma mancha central por onde olhavam. Será que enxergavam? Não sei se enxergavam ou se só tinham um radar de movimentos. Sem boca, nem nariz nem nada parecido com um ser humano. Desses braços pendiam umas membranas pretas que se agitavam constantemente.
Um dia me desesperei e comecei a atacá-las: joguei um livro numa delas e espantei furiosamente as outras com bofetadas. Rápidas e com bons reflexos, algumas vezes conseguiam esquivar-se. Eu ficava pensando se elas sentiam dor quando eu as atravessava com meus braços. Será que sentiam alguma coisa? O que eu percebi é que perdiam um pouco a forma e, por sua vez, eu ficava tonta. Aquela vez eu devo ter corrido atrás delas durante uma hora sem parar, até ficar exausta. A batalha não tinha servido para nada e a indignação brotava de mim como gotas de suor ao vê-las em estado de contemplação.
Sonhei que saíam voando pela janela ou que se enfiavam dentro das sombras de onde surgiam, para não aparecerem nunca mais. Mas nada disso aconteceu.
Fui a uma igreja e conversei com um padre. Que reze, reze muito para encontrar paz interior, que jogue água benta em todos os quartos... que jante pouco... Deu uma benção especial para mim, outra para a casa e me entregou um montão de santinhos.
Gotinhas de colírio, água benta, orações... Uma amiga me disse que pendurasse alho atrás da porta, que tomasse um banho de imersão com sal grosso e que colocasse vinagre branco na testa. Tentei isso e outras táticas mais.
As noites eram cansativas e eu costumava acordar respirando seus hálitos imundos. Por um tempo, o que melhor funcionou foi um calmante que me receitou um médico. Uma maravilha encapsulada com efeito imediato: depois de dez minutos já me sentia atordoada. As sombras se aproximavam e eu cobria o rosto com o travesseiro para evitá-las. No máximo em meia hora me desligava e não reagia até o outro dia.
Decidi me mudar. Fiz isso duas vezes e cada vez que acabava de arrumar os móveis, apareciam como por passe de mágica. Acho que elas não gostavam da bagunça ou demoravam em me localizar. Na primeira vez que as vi, depois de várias horas abrindo caixas, não aguentei e comecei a chorar. Amaldiçoei a existência delas e comecei outra das minhas perseguições terapêuticas e descontroladas. Enquanto as perseguia, me perguntava se seriam as mesmas. Pareciam as mesmas.
Em uma festa tentei mostrá-las a uma vizinha. Dá para você ver aquela que está saindo da sombra da estante? É a mais agitada do grupo. A única coisa que ganhei foi aquele olhar medroso e desdenhoso, olhar de olhos curiosos que vibram ao descobrir alguma coisa fora do lugar. Infelizmente, esse olhar era o que sempre surgia depois da confissão das minhas companhias.
Dias depois do meu aniversário de setenta anos, aconteceu aquilo que havia desejado a vida toda: elas desapareceram. Foi de repente e sem aviso prévio. Eu as busquei por todos os cantos da casa e nada.
Jamais pensei que quando o momento desejado chegasse, eu ia me sentir tão agoniada. Fui visitar a minha irmã com a idéia de lhe contar o que tinha acontecido; ela era a única pessoa com quem eu podia conversar sobre o assunto. Cheguei ao seu apartamento, toquei a campainha e não me atendeu. Um vizinho saiu do prédio e aproveitei para entrar. Encontrei a minha irmã lendo o jornal na cama. Não havia percebido a hora: eram 8 da noite. Eu a chamei e não me escutou. Surda como uma porta havia ficado com os anos, pensei. Então mexi nas folhas do jornal. Surda e concentrada.
Vi que ela pestanejava e esfregava os olhos como se de repente tivesse um cisco no olho. Parei bem ao seu lado e ela ficou pálida quando me viu.
— Juanita, disse. E ela, assustada e com cara de nojo, me deu um golpe com o jornal e começou a correr atrás de mim pelo corredor.
— Para, Juanita, para que sou eu! — gritava eu assustada enquanto tentava me salvar dos pontapés. Fiquei completamente desorientada e me escondi atrás de um móvel.
Ás vezes, ela chora e reage mal quando eu me aproximo. Paciência, digo eu. E me dedico a lhe fazer companhia.
Gabriela Colombo
Madrugada - Laura Ramírez Vides


Eu sinto uma presença ao meu lado. Acordei tocando-me o seio. Um dedo toca a base do meu esterno.
Viro minha cabeça enquanto abro os olhos. Ai está em pé, olhando para mim; eu vejo sob a meia luz da madrugada que entra pelas aberturas da veneziana. Me mostra o braço todo manchado, a toco, e está pegajoso. Me levanto em um movimento lento. Te olho melhor e sua cara parece mal maquiada, com pinceladas grossas que rodeiam a boca, permeiam seu rosto, invadem o seu nariz. Lhe pergunto se está tudo bem. Confirma. Seus olhos indicam uma serenidade sábia. Agarro sua mão e juntas vamos com calma para o banheiro. Começo a lavá-la em silêncio. O sangue corre descolorindo esse corpo que eu amo tanto. A cerimônia foi interrompida pela minha voz.
- Está sangrando o nariz?
- Sim, mamãe.
Laura Ramírez Vides
Assim é a Vida - Laura Ramírez Vides

Traducido al portugués por Beth 2Santoss.

Lógica implacável, molhada em lágrimas.
Três anos.
Laura Ramírez Vides
Um livro esclarecedor - Fernando Sorrentino

Texto en español en Badosa.com: "Un libro esclarecedor".
Traducido al portugués por Ana Flores
Ludwig Boitus: Stelzvögel, Gotinga, 1972
No conciso prólogo dessa obra, o professor Franz Klamm nos informa que o Dr. Ludwig Boitus viajou de Gotinga a Huayllén-Naquén com o exclusivo propósito de estudar in loco o poder de atração simbiótica dessas aves pernaltas popularmente conhecidas como calegüinas, denominação quase unanimemente aceita na bibliografia especializada em espanhol.
Essa obra vem preencher um sensível vazio sobre o tema. Antes das exaustivas investigações do Dr. Boitus – cuja exposição ocupa quase um terço do volume –, pouco se sabia cientificamente sobre as calegüinas. De fato, salvo os fragmentados e assistemáticos - e, geralmente, povoados de afirmações fantasiosas ou dificilmente comprováveis – estudos de Bulovic, de Balbón, de Laurencena e outros, fazia-se necessária, até a data, uma fidedigna fundamentação científica que permitisse indagações mais profundas.
Nesse trabalho, o Dr. Boitus parte da premissa - talvez questionável - de que a característica predominante das calegüinas é uma personalidade poderosíssima (entendendo-se personalidade no sentido empregado por Fox e sua escola): a tal ponto poderosa, que, por sua simples presença, as calegüinas provocam nos demais seres vivos uma simbiose bastante profunda à sua própria condição.
Essas aves são encontradas exclusivamente na lagoa de Huayllén-Naquén. Seu número é muito elevado e talvez supere um milhão de exemplares, pois sua caça está proibida, sua carne não é comestível e suas penas não têm valor comercial. Como é comum às aves pernaltas, alimentam-se de peixes, batráquios, larvas de mosquitos e outros insetos.
Embora providas de asas bem desenvolvidas, raramente voam e, quando o fazem, jamais ultrapassam os limites da lagoa. São um pouco maiores que as cegonhas, mas ao contrário destas, não têm hábitos migratórios. O dorso e as asas são negros, chegando a ser azuis; a cabeça, o peito e o ventre, de um branco amarelado; as patas, de um amarelo pálido.
Seu habitat, a lagoa de Huayllén-Naquén, é de pouca profundidade, mas bem extensa. Como – apesar das reiteradas solicitações neste sentido – não há pontes sobre ela, os habitantes do local se vêem obrigados a dar uma grande volta para alcançar a outra margem, o que tem provocado, além de contínuas queixas do único jornal local, que a comunicação entre as duas margens seja pouco freqüente.
Claro que, aparentemente, com mais rapidez e facilidade poderiam atravessar a lagoa com a simples utilização de pernas-de-pau e até sem estas, já que em seu local mais profundo a água não ultrapassa o nível da cintura de um homem de estatura mediana. Mas como – mesmo de um modo talvez intuitivo – os habitantes conhecem o poder simbiótico das calegüinas, o fato é que preferem não tentar a travessia e optam, como já mencionado, por rodear a lagoa que, por sua vez, é cercada por um excelente caminho asfaltado.
Esta circunstância, entretanto, não impede, e talvez até favoreça – e isso se pode justificar, em virtude dos poucos recursos de subsistência oferecidos pela região – que o aluguel de pernas-de-pau para os turistas seja o negócio mais rentável de Huayllén-Naquén. A falta de uma concorrência séria e a inexistência de normas oficiais a esse respeito têm feito com que o preço do aluguel das pernas-de-pau seja, evidentemente, muito elevado, apesar de, sem dúvida, tal exorbitância ser a única saída para os comerciantes se ressarcirem de sua inevitável perda.
O que existe é uma lei da província cujo alcance, bastante limitado, exige que nos locais onde se alugam pernas-de-pau haja, bem visível e com letras garrafais, um cartaz com a advertência de que seu uso pode provocar alterações psicossomáticas de certa gravidade nos usuários.
Em geral, os turistas preferem desconhecer tal aviso e até rir-se dele, se bem que não se pode assegurar que todos o leiam, mesmo quando é inegável que os comerciantes cumpriram rigorosamente a exigência de exibir o cartaz em lugar bem visível, e sabe-se que as autoridades são inflexíveis quanto a esse aspecto, embora seja pouco freqüente a fiscalização, sempre precedida de um aviso, apesar de este costumar chegar poucos minutos antes do fiscal que, entretanto, cumpre fielmente sua tarefa, se bem que não se conheçam casos em que algum comerciante tenha sido multado.
Já de posse de suas pernas-de-pau, os turistas, sozinhos, em pares, ou em alegres e ruidosos grupos de três, cinco ou dez pessoas, se internam na lagoa de Huayllén-Naquén, com o propósito de alcançar o povoado da margem oposta, onde podem adquirir, a preços reduzidíssimos, exóticos peixes em conserva, cuja venda constitui o principal meio de vida dessa população ribeirinha.
Durante os primeiros duzentos ou trezentos metros, os turistas avançam jubilosos, trocando brincadeiras entre eles e espantando, com seus gritos e risadas, as calegüinas que, como todas as aves pernaltas, são extremamente assustadiças. Mas, à medida que se internam cada vez mais na lagoa, suas manifestações de alegria e exultação tornam-se mais tênues, ao mesmo tempo em que aumenta a densidade de calegüinas por metro quadrado.
Agora são tantas e tantas, que só com muita dificuldade os turistas conseguem abrir caminho entre elas. Por outro lado, parece que, protegidas por seu grande número, elas perdem qualquer temor, embora a razão de sua quietude talvez possa ser encontrada na impossibilidade concreta de se moverem. Seja por que motivo for, o certo é que os gritos já não são suficientes para afastá-las, de modo que é mister recorrer a pauladas ou tapas e, mesmo assim, é pouco o espaço cedido pelas calegüinas.
É neste momento que, em geral, os turistas se calam: já não há brincadeiras nem risadas. Então – e só então - percebem um pesado murmúrio que cobre a lagoa toda e que nasce de milhares de gargantas de milhares de calegüinas. Em relação ao timbre, tal murmúrio não é muito diferente do que costumam emitir os pombos, só que de muito maior intensidade.
Penetra, assim, nos ouvidos e nos cérebros dos turistas tão profundamente, que quase chega a fazer parte deles, até o ponto em que, pouco a pouco, também os turistas começam a emitir o mesmo som: no início, de um modo evidentemente bastante imperfeito, mas logo já se torna impossível distinguir entre a voz dos humanos e a das calegüinas.
Quase simultaneamente, os turistas percebem, com uma sensação interna de asfixia, que, até onde o olhar alcança, tudo são calegüinas: já não podem distinguir a terra firme nem a água da lagoa. À sua frente e atrás, à direita e à esquerda, vislumbram um contínuo e monótono deserto, em branco e em preto, de asas, bicos, patas e penas.
Às vezes, sobretudo quando o grupo de turistas é numeroso, costuma haver entre eles um mais lúcido ou menos exaltado, que intui a conveniência de regressar, desistindo do projeto de adquirir a preços reduzidos os raros peixes em conserva vendidos na margem oposta. Margem oposta: mas qual é a margem oposta? Como voltar, se já perderam toda noção sobre de onde vêm e para onde vão? Como voltar se, com efeito, já não há pontos de referência, se tudo, em preto e em branco, é um contínuo e monótono deserto de asas, bicos, patas e penas? E olhos: dois milhões de olhos que piscam inexpressivamente.
Apesar da evidência de que já não é mais possível voltar atrás, aquele turista mais lúcido ou menos exaltado dirige-se a seus companheiros e pateticamente lhes diz: “Amigos! Voltemos por onde viemos!”. Mas seus companheiros já não entendem seus estridentes grasnados, tão diferentes do murmúrio anterior. E, apesar de eles também responderem com grasnados, ainda têm consciência de que continuam sendo humanos.
O medo toma conta deles, já não podem raciocinar com clareza e todos querem falar ao mesmo tempo. O coro de grasnados é ininteligível, não conseguem se entender e, embora queiram, não podem avisar uns aos outros que todos já são calegüinas. As outras calegüinas, as mais antigas daquela comunidade, que até então haviam permanecido no silêncio indiferente do espectador que conhece a trama, irrompem todas juntas, elas também, a grasnar agudamente, com todas as suas forças.
É um grasnar geral, uma explosão de triunfo e de conquista que, partindo desse primeiro e estreito círculo, estende-se rápida e tempestuosamente por toda a largura e extensão de Huayllén-Naquén, até ultrapassar seus limites e alcançar as casas mais afastadas do vilarejo. Os habitantes tapam os ouvidos com os dedos e sorriem. Por sorte, a algazarra não dura mais do que cinco minutos e, somente quando cessa completamente, os comerciantes do lugar começam a fabricar tantos pares de novas pernas-de-pau quantos foram os turistas que se internaram na lagoa.
[De El mejor de los mundos posibles, Buenos Aires, Editorial Plus Ultra, 1976]